Apresentação
A finalidade do seminário é, no âmbito do desenvolvimento de um projecto de resposta a um programa/ problema de investigação em arquitectura, fornecer aos estudantes/ investigadores ferramentas conceptuais e de análise que lhes permitam constituir um quadro de apoio à decisão, escolhas e percurso de Dissertação em Arquitectura.


A abordagem, eminentemente teórica (mas não de teoria da arquitectura, ou de teoria do objecto e da forma arquitectónica), visa enumerar, distinguir e agrupar aspectos que de uma maneira genérica e transversal se colocam em qualquer trabalho, desde os passos iniciais.
Mais importante do que a transmissão de um método, mais ou menos científico, ou de uma chave de resolução, mais ou menos aferida, acabará por ser a exposição de um vocabulário, e conceitos correspondentes, que serão cada vez mais o que faz do arquitecto um profissional com um discurso e um pensamento próprios. Já não só na esfera indiferenciada das outras profissões, mas ainda no conjunto das actividades afins: há que contribuir para que a razão e a visão da arquitectura por um arquitecto se distingam das do historiador de arquitectura, das do teórico de arquitectura e das do crítico de arquitectura. E parece ser isso viável apenas no propósito de uma disciplina de pensamento sobre o objecto da arquitectura. É o carácter prospectivo da profissão “arquitectura”, consubstanciado no projecto, à semelhança do que será o diagnóstico e a terapêutica no acto clínico (destrinçando-o da avaliação meramente biológica), que diferencia a abordagem do arquitecto da do historiador, crítico e demais. Todavia, comungando das perspectivas e pontos de vista destes últimos.
É assim, no âmbito de uma propedêutica experimental e laboratorial, no ano de término da formação - charneira entre um estado de deslumbramento e curiosidade (em que o contexto disciplinar é marcado sobretudo pelo desenvolvimento de capacidades: o desenho, a geometria, a consciência histórica), ocorrendo aí, a transição para um espírito de profissionalismo e vocação, quando os estudantes já se vão confrontando com a existência de disciplinas auxiliares e subsidiárias da actividade do arquitecto (a sociologia, a economia, o urbanismo) -, é pois neste ano curricular, que se impõe concorrer para uma clara demarcação da sua especificidade - sua, do arquitecto. Seguramente, a partir de uma teoria do projecto e da investigação em arquitectura, como apoio às respestivas prática e à pragmática.
Desta forma, pretende configurar-se duas grandes famílias de aspectos presentes no desenvolvimento de um projecto, sendo que o que os coloca nessa formulação dual é o facto de uns serem exteriores, prévios e contingentes em qualquer acto de projectar e investigar (os esquemas), e outros serem atributos intrínsecos e condicionantes daquele acto (os sistemas). Atenção, porém, que a nenhum dos aspectos atrás identificados deverá ser extraído o arbítrio como exercício constituinte do sujeito. Ou seja, só fará sentido falar neles a partir do momento em que tiverem sido, de modo consciente e esclarecido, convocados pelo arquitecto (seja na figura do coordenador de equipa, seja na do artista).

EXPOSIÇÃO
I.
A ESQUEMÁTICA
Dentro desta família encontramos os aspectos que são designados por fenómenos de esquematismo:
- o lugar-comum: aspectos ligados à simbólica, à imagética e à iconografia, aos quais o arquitecto recorre voluntariamente para destacar determinado significado; entra no âmbito do lugar-comum todo o discurso estruturalista e pós-modernista da semiótica, da linguagem em arquitectura, da significação, signo, significante e significado, etc.
- o estilo: aspectos de forma arquitectónica que, contribuindo para uma percepção do todo ou da parte, permitem identificar uma autoria (“o estilo é o homem”), ou uma determinada época (“o estilo é o tempo”); tem aqui cabimento a problemática do grau zero da escrita (Barthes) ou de uma linguagem sem identificação de estilo, para a qual parece concorrer uma certa arquitectura do mínimo e do essencial, tão em voga.
- o tipo: aspectos de tipificação; terá aqui lugar a definição de tipologia e a distinção entre arquétipo, protótipo, estereótipo, cataléptipo.
- o cânone: aspectos de métrica e rítmica; é no âmbito do cânone que fará sentido introduzir os conhecimentos adquiridos pela ergonomia, a antropometria, a dialéctica do cheio e do vazio, ou do aberto e do fechado, a composição simétrica e as proporções notáveis.
- o ideograma: esquema supremo, a ele se recorre quando não há caracteres, elemento ou forma capazes de transmitir uma ideia; estão-lhe ligados todos os aspectos de representação simplificados e organizacionais: o diagrama, o organograma, o cronograma, o programa, o anagrama.

II.
A SISTEMÁTICA
Deste conjunto fazem parte os sistemas a que se pode apelar e/ou desencadear, desde início ou numa determinada etapa do projecto, e que uma vez accionados condicionam todos as acções subsequentes. Ao passo que o esquema pode ser truncado, adulterado, adaptado sem dano para o bom termo do projecto, o sistema quando interrompido ou subvertido provoca necessariamente um impasse de desenvolvimento, tendo, nesse caso, como contrapartida a incongruência de ordem.
O entendimento do que é um sistema não é imediato, porém a sua mais franca definição é a de um conjunto complexo de princípios e leis em interdependência. Sendo que um esquema prima pelo isolamento e pela simplificação, a eficácia de um sistema depende da rede de relações entre os seus componentes. No acto de projecto, enunciam-se:
- o sistema do olhar: ligado à percepção e aos sentidos do sujeito que projecta e delibera; o famoso “olhar treinado”, apanágio do arquitecto, que não mais significa do que uma experiência posta em prática.
- o sistema do lugar: presente no sítio de intervenção, partindo do princípio de que cada projecto tem o seu lugar, único e irrepetível, ainda que esse lugar seja desterritorializado (poderá ser social, humano, imaginário, ficcional, efémero); quando ligado a aspectos mais objectuais e concretos, falar-se-á de topografia, pré-existências, envolventes, contextos físicos e humanos, enquadramentos sociológicos, etc.
- o sistema dimensional: prende-se com os aspectos de escala, proporção e grandezas, ligados directamente à forma arquitectónica e às entidades geométricas.
- o sistema de representação: define os métodos de desenho e estratégias gráficas mais adequadas, em cada fase do projecto.
- o sistema construtivo: decide os aspectos materiais e económicos da solução a desenvolver.

BIBLIOGRAFIA
. AAVV, (2002), Vocabulário Técnico e Crítico de Arquitectura, Lisboa: Quimera, 3ª Ed.
. BAYER, Raymond (1956), Traité d’Esthétique, Paris: Librairie Armand Colin.
. BOUDON, Philip (1971), Sur l’espace architectural, Paris: Dunod.
. GREGOTTI, Vittorio (1995), Sulle orme di Palladio, rgiomi e pratica dell’architettura, Roma: Editori Laterza.
. RODRIGUES, MJM (2002), Arquitectura, o que é, Lisboa: Quimera.
. VENTURI, R. (1995), Complexidade e Contradição em Arquitectura, S. Paulo, Martins Fontes.
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